Em conscientização ao dia 05/06, Dia do Meio Ambiente, o ComunicArte propôs uma reflexão a partir da obra “Ideias para adiar o fim do mundo”, do autor Ailton Krenak.
Ao tratar desta obra, queremos lembrar da importância dos povos indígenas na formação do Brasil e refletir sobre uma perspectiva que vai além da visão eurocêntrica que domina os debates sobre clima e futuro. Para isto, como pontua o autor, é importante que consideremos novas lentes, a partir da construção de uma relação de paz com a natureza, já cultivada pelos povos originários.
Ailton Krenak, nascido em 1953 no Vale do Rio Doce, é uma das vozes mais importantes do pensamento indígena e socioambiental brasileiro. Ele fundou a União das Nações Indígenas, articulou a Aliança dos Povos da Floresta e participou da estruturação do Capítulo referente aos direitos dos indígenas na Constituição Federal de 1988.
O autor também recebeu o título de Doutor Honoris Causa e, mais recentemente, se tornou o primeiro indígena na Academia Brasileira de Letras.
Entre suas principais obras estão: A vida não é útil, Futuro Ancestral e Ideias para adiar o fim do mundo.
Ideias para adiar o fim do mundo nasce de palestras que Krenak fez em Portugal, em 2017. Os textos questionam a ideia de humanidade que nos ensinaram: uma ideia que separa Homem e Natureza, como se fossem coisas opostas, o que contradiz completamente a filosofia dos povos nativos, que vivem em comunhão com a Terra.
Além disso, o livro nos provoca:
O que queremos dizer quando falamos em “salvar a humanidade”?
Estamos falando de todos os humanos?
Ou só daqueles com dinheiro, poder, estudo… ou que compartilham dos nossos costumes?
Krenak afirma que vivemos numa sociedade viciada em consumo e que, além disso, nosso tempo é especialista em tirar o sentido da vida. Nosso modo de viver mata os sonhos, a diversidade, a alegria de ser quem se é. E é aí que entra uma das propostas mais belas do livro: reaprender a sonhar.
Os povos indígenas resistiram por séculos a um fim anunciado — o apagamento de suas culturas, línguas, territórios.
Agora, todos nós enfrentamos um colapso.
Vivemos na era do Antropoceno — uma era geológica moldada pelos impactos humanos no planeta. E isso… não é motivo de orgulho. É um sinal de que algo está muito errado.
“Talvez o que a gente precise é descobrir um paraquedas.
É isso que Krenak nos propõe: Não negar a queda, mas cair de outro jeito. Aprender com os povos originários. Parar de buscar soluções mágicas para transformar recursos finitos em infinitos. E aceitar, com sabedoria, os limites da Terra.
Adiar o fim do mundo é sobre reorganizar a vida. É imaginar novas formas de existir, de sonhar, de conviver. Porque não haverá salvação enquanto a ideia de progresso for baseada na destruição. E enquanto tratarmos a Terra como um lugar a ser explorado, e não como uma casa que nos acolhe.